quarta-feira, 26 de junho de 2013

O GRITO

Eu deixei um grito
Longo, dorido, infinito
Corrido num labirinto
Um grito humano
Grotesco grito

De quem morre ainda vivo
De quem vive ainda sem amor
De quem ama ainda com pudor
De quem pode e perde o mito
De quem come e descome o livro
Passeia preso e passivo
Atônito elide o grito
Surdo ouve o apito
Soluça, sufoca, sofre
E repete o grito

Ouviram o grito?
Viram este grito?
Andaram com o grito?
Gritaram meu dito?
Alguém responda, eu acredito
Não tenho fé, mas necessito

Perdi meu grito
À favorita de Diana repito
Devolva-me o grito
Não podes fugir de Juno o castigo
Estou mudo?
Estou aflito
Reflito...

O eco é um som refletido
Dentro de uma cabeça oca
O som entra, bate e volta,
Então meu grito deveria ser ecoado
Ad infinitum
Meu mundo de gritos e paradoxos
Cabeças-ocas não me ouvem
O som entra mas não sai
Fica no altar das paralelas
Um dia voltaremos a ficar juntos
Eu e o meu grito,

Ouvindo o ovo gritar.

3 comentários:

  1. Ouvi o grito, reconheci o som.Não o deixe virar sussurro,ele precisa falar, jamais se calar. Muito tocante esse poema, gostei muito.

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  2. O importante é soltá-lo, só assim ele sai do altar, afinal muitas paralelas podem convergir. Gr. Bj.!

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  3. Muitas vezes precisamos soltar nossos gritos, para não sufocar, por pra fora tudo que nos perturba a alma. Mas o importante é não sufocá-lo... extravasar! Um poema profundo e belo. Parabéns Carlos, escreves divinamente. Até encarei os códigos para liberar os comentário...kkk. Um bj

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